As designações ‘economia circular’ e ‘economia verde’ entraram há muito no léxico do dia-a-dia e sabemos que estão de alguma forma ligadas ao combate contra as alterações climáticas. Mas não são a mesma coisa.
A economia circular deriva da economia verde enquanto uma das ramificações de uma filosofia global de redução das agressões ecológicas. Ambas constituem oportunidades para tentar travar a crise ambiental e para conseguir que o desenvolvimento das diferentes economias se faça de forma mais sustentável. E servem de suporte às metas que foram já traçadas a nível mundial. Na União Europeia, por exemplo, Bruxelas definiu como objetivo para o conjunto dos estados-membros conseguir, até 2030, reduzir as emissões líquidas de gases com efeito de estufa em pelo menos 55%, através de medidas em áreas como o clima, a energia, os transportes e a fiscalidade.
Rumo a uma Economia Verde
A economia verde é um modelo económico que procura conciliar os objetivos de prosperidade com um desenvolvimento baixo (ou neutro) em carbono, eficiente e sustentável no uso dos recursos e socialmente inclusivo, focado no alívio da pobreza. Tudo isto tirando partido das potencialidades trazidas pela tecnologia e pela inovação.
Estes e outros princípios são concretizáveis em áreas como a gestão de resíduos (reciclagem, recuperação de resíduos sólidos urbanos, limpeza dos solos, entre outros), as energias renováveis (solar, eólica, geotérmica, energia das ondas), os transportes ‘limpos’ (com recurso a veículos híbridos ou elétricos, a combustíveis alternativos, transportes públicos), a gestão eficiente da água (através da recuperação das águas fluviais poluídas, da purificação da água e da gestão das águas pluviais), os edifícios verdes ou a gestão da terra (com a conservação ou recuperação de habitats, o aumento dos parques e florestas urbanas, entre outros).
Neste novo paradigma, que é também uma fonte de oportunidades para os agentes económicos, outras indústrias são indiretamente envolvidas, como é o caso da indústria transformadora – na produção dos materiais necessários para levar avante as mudanças necessárias -, do setor automóvel – pelo seu papel na adoção de transportes ‘limpos’, das tecnologias de informação ou do setor financeiro – no financiamento de projetos sustentáveis e análise do risco ambiental dos projetos -, entre muitos outros.
Os objetivos da Economia Circular
Derivada da economia verde, a economia circular surge como uma das suas ferramentas, pela necessidade de um modelo de funcionamento das sociedades e meios de produção que se traduza numa redução do desperdício e otimização de recursos.
Com os princípios da economia circular, pretende-se passar dos modelos de produção linear trazidos pela industrialização do século passado – extração de matéria-prima, produção, utilização e inutilização dos produtos –, para um modelo circular, onde os materiais e os resíduos regressam ao ciclo produtivo. O objetivo é reduzir o desperdício e a pegada ambiental não só através da reciclagem – que não deixa de implicar um grande consumo de recursos – mas também da reutilização e da recuperação.
Entre as medidas que vão de encontro a estas metas estão uma maior coordenação entre os sistemas de produção e consumo e o fim de políticas de redução de resíduos quase exclusivamente focadas na reciclagem. Numa lógica de produção em que o único destino a dar aos produtos em fim de vida é, por regra, a reciclagem (ou nem isso), há uma perda de qualidade a cada novo ciclo de vida do produto, o que atrasa, mas não reduz de forma definitiva a geração de resíduos. A aposta em produtos e materiais totalmente recuperáveis ou reutilizáveis terá um impacto muito maior na redução da pegada ambiental.
Para as empresas, a economia circular produz efeitos, desejavelmente, em cinco áreas: design dos produtos, materiais utilizados, gestão dos recursos, fontes de energia a que se recorre e modelo financeiro. Quanto a este último aspeto, a transição para a economia circular pode ter efeitos menos positivos para as empresas no curto prazo, já que tem custos de implementação, mas, a longo prazo, surgirão benefícios, fruto de um funcionamento mais eficiente e sustentável.
Plantar hoje para colher amanhã
De uma forma geral, as empresas que integrarem a política ambiental e a sustentabilidade no cerne das suas estratégias irão, mais tarde ou mais cedo, colher os frutos desse investimento. Sim, é verdade que, em termos de imagem junto dos clientes, é cada vez mais bem acolhida uma política empresarial sustentável. Mas há muitos outros bons motivos para que as empresas abracem esta causa.
Numa altura em que a retenção de quadros é cada vez mais um desafio, cada vez mais as gerações de trabalhadores mais jovens estão atentas e privilegiam empregadores que levem a sério a sustentabilidade. Depois, uma utilização eficaz de recursos vai inevitavelmente trazer benefícios para as empresas em termos de redução de custos de produção e transporte e de criação de valor.
Como já atrás referido, a reputação das marcas ganha com produtos e serviços sustentáveis, ou não estivesse a aumentar de dia para dia o número de consumidores que têm esta temática em conta na altura de escolher onde consomem. Acresce que, numa altura em que ainda há muito que caminhar no meio empresarial, as empresas que forem pioneiras na mudança de paradigma nas suas empresas ganham uma enorme vantagem competitiva e uma oportunidade para trazer mais inovação para as suas organizações.
O impacto da crise energética no caminho para uma economia mais verde
Em que medida é que este caminho para uma economia mais sustentável é afetado pela atual crise energéticaprovocada pela guerra na Ucrânia? As opiniões dividem-se. Alguns especialistas consideram que a escassez de combustíveis fósseis, a par do seu brutal encarecimento, irá contribuir para acelerar a transição verde. A necessidade irá obrigar os países a aumentar a velocidade, dentro do que for possível, da transição para energias limpas como a solar ou a eólica.
Os mais pessimistas lembram que, em momentos de grave crise económica como a que se avizinha, a mobilização popular para a causa climática pode baixar no curto prazo. Por outro lado, é também verdade que medidas como a descarbonização dos negócios ou um aproveitamento mais eficiente dos recursos têm vantagens concretas e palpáveis em termos económicos.
‘Mergulhar’ a fundo na economia verde e na economia circular é, assim, não só uma questão de contribuir para salvar o planeta e travar as alterações climáticas. Trata-se igualmente de adotar formas mais competitivas e financeiramente inteligentes de operar. A médio e longo prazo, esta é uma área em que todos sairão a ganhar.