O trabalho dos especialistas em gestão de dados e das ferramentas analíticas é apenas metade do caminho. Para que o trabalho centrado em dados seja eficaz, é necessária a literacia em dados, ou seja, competência e compreensão dos dados na empresa. Nós mostramos como é possível desenvolver e promover essas competências.
Cada vez mais empresas compreendem o valor dos conhecimentos derivados dos dados. Para aumentar o potencial, as empresas precisam no mínimo de ferramentas de análise de dados e dos peritos em gestão de dados certos, cujas funções e tarefas descrevemos neste artigo. No entanto, os dados e a sua análise só podem desenvolver o seu potencial, se as recomendações deles derivadas forem ouvidas e implementadas. Para que isto suceda, praticamente todos os departamentos da empresa devem compreender o valor dos dados. Isto inclui não só aqueles que trabalharam com dados durante mais tempo e com mais frequência, como também por exemplo o departamento de marketing com os KPIs (indicadores-chave de desempenho) para medir o sucesso, ou o departamento de TI, onde os dados digitais e os projetos de dados já desempenham por natureza um papel central há cerca de 20 anos.
A competência necessária em matéria de dados, também conhecida como literacia de dados, deve ser construída, promovida e estabelecida na empresa. O caminho para este objetivo é também a viagem em direção a uma empresa orientada por dados. Neste caminho, peritos em dados, como o CDO (Chief Data Officer), têm de ultrapassar vários obstáculos.
Aqui estão 5 dicas para promover a literacia de dados na empresa
1. Envolver os quadros superiores
O primeiro obstáculo no caminho para uma cultura empresarial centrada em dados começa no topo, ao nível da gestão. Só quando o CEO e a direção compreenderem e reconhecerem o valor estratégico dos dados é que a implementação terá êxito, como Hartmut König, CTO para a Europa Central da Adobe salientou na nossa entrevista*: ” Quando começo a trabalhar e a reger-me pelos dados, a “HIPPO” (Highest Paid Person Opinion), ou seja, a pessoa tem a última palavra nas decisões e na definição de prioridades, acaba por ser menos importante do que os dados, o que significa que tenho de estabelecer limites à opinião das pessoas mais bem pagas da empresa. Quanto mais acima na hierarquia estão as pessoas que conferem pouca relevância à gestão de dados, mais difícil se torna”. König recomenda que se consiga um consenso em todos os níveis da hierarquia, referindo ser essencial existir um entendimento comum dos KPIs (indicadores-chave de desempenho) ao longo da cadeia de valor. “Como na altura Adobe, também nós próprios passámos por esta mudança e percebemos que este obstáculo “HIPPO”, ou seja, a “opinião da pessoa mais bem paga”, é um dos mais significativos”, sublinha König.
2. Empresa orientada por dados em vez de pensamento departamental
Trabalhar com dados não deve envolver apenas o departamento de dados e de análises. Toda a empresa deve responder às perguntas típicas como “Como e onde podemos criar ou expandir novos valores para o nosso negócio?”. Desta forma, todos estarão indireta e constantemente a analisar e a lidar com dados, mesmo que se obtenha os conhecimentos a partir de dados não em bruto, mas processados, sob a forma de gráficos e relatórios mais fáceis de ler. Esta abordagem alargada expande o papel do CDO: O enfoque reside sobretudo no trabalho de equipa no âmbito da resolução de problemas em torno de dados e análises. Assim, o CDO e a análise de dados não ficam reféns de uma atividade de “laboratório”.
3. Promover a mudança da cultura na empresa
De acordo com um inquérito da Gartner, a mudança para uma cultura baseada em dados é o fator mais importante para o sucesso, contribuindo para o mesmo com 33 por cento, o que significa que é ainda mais relevante do que as competências de análise de dados dos peritos. Mas, afinal, o que significa “cultura” neste contexto? De acordo com a Gartner, a cultura pode ser vista como “conversas coletivas na empresa”. Assim, à semelhança do que sucede com a transformação digital, para que as ações e a mentalidade na empresa mudem, é importante que as conversas sobre dados passem também a ser parte integrante do quotidiano na empresa – por exemplo, com pontos fixos da agenda em reuniões com abordagens e aprendizagem no âmbito da análise de dados. O CDO torna-se um embaixador para a compreensão de dados na empresa, prestando um importante contributo formativo.
4. Visualizar e transmitir dados
O CDO torna-se assim no “Chief Data Influencer”, focando a sua ação mais na promoção do pensamento baseado em dados do que na liderança de equipas. Ele ou ela deve ter boas qualidades mediadoras para influenciar as pessoas e as partes interessadas da empresa, conquistando-as para o trabalho com dados. Isto envolve frequentemente um trabalho de transposição: muitas vezes o mundo dos dados e do marketing é demasiado abstrato para outros departamentos, e a familiarização com as métricas dos KPI pode parecer um empreendimento impossível. Ferramentas como a visualização de dados facilitam a sua compreensão tanto ao nível dos quadros de chefia como dos departamentos.
5. Começar por baixo e progredir rapidamente
A literacia de dados não pode ser estabelecida numa empresa de um dia para o outro. “Os primeiros pequenos sucessos devidos ao trabalho com dados tornam o valor tangível”. “Recomendo a cada empresa que comece pequeno e dê o primeiro passo de acordo com o lema “gatinhar – andar – correr”. O melhor será começar agora e apontar para progressos rápidos, em vez de tirar as primeiras conclusões daqui a um ano”, explica Hartmut König. Os progressos rápidos descritos podem ser campanhas individuais, produtos ou áreas no website que facilitam sucessos mensuráveis. Estes sucessos, quando comunicados, tornam então o valor dos dados compreensível.
“A aceitação do trabalho orientado por dados até ao nível de gestão é importante e também significa uma ação regular e consistente. Também aqui o exemplo de Adobe: o nosso conselho de administração analisa os dados importantes todas as semanas. O primeiro nível de gestão tem sempre os mesmos dados em vista – sobretudo quando há uma reunião com a direção”.
Conclusão: A análise de dados não se restringe a meros dados
Assim como a componente humana não deve ser subestimada na transformação digital, também a mentalidade dos colaboradores da empresa não deve ser esquecida no caminho para a centralização de dados. Se o valor dos dados e as recomendações de ação derivadas deles não forem compreendidos, as melhores ferramentas analíticas e os melhores especialistas em dados com as suas recomendações serão ineficazes. Há, portanto, que começar no plano da compreensão dos dados e gradualmente conquistar toda a empresa com pequenos sucessos para a ideia de uma atuação geral centrada em dados.