Como tantas vezes se ouve dizer, lançar uma startup passa, na essência, por encontrar uma solução para um problema ou necessidade existentes. Ou, no limite, por criar uma nova necessidade. Tal ideia deve depois ser exequível e financeiramente interessante, sob pena de nem sequer sair do papel.
Num mercado tão competitivo como o atual, encontrar algo que acrescente valor e seja verdadeiramente inovador é, ao mesmo tempo, um imperativo e um desafio. No entanto, o ser humano tem uma capacidade de criar e procurar soluções que é inesgotável.
Dito isto, e ao contrário do que por vezes a ficção possa dar a entender, as ideias não se constroem no vazio. Há que criar as condições para que as mesmas possam tomar corpo e ser concretizáveis. É fundamental ter as ferramentas e o contexto certos e saber identificar, com realismo e com rigor, o que se pode trazer de novo que constitua uma mais-valia para o mercado. Seja ele qual for.
Fatores que fazem a diferença no processo de criação
Ser capaz de fazer uma boa radiografia do ‘ponto 0’ do qual se parte é o primeiro passo e é algo essencial para se encontrar uma ideia. Saber enumerar as mais-valias que se possui, assim como as possíveis fragilidades, o que se quer fazer e que valor se pode acrescentar é uma base de trabalho muito importante.
Depois, o brainstorming é, claro está, uma etapa preciosa enquanto técnica para encontrar novas ideias. Esse brainstorming deverá ter em conta o público-alvo a que se pretende chegar. Diferentes públicos, de faixas etárias, classes socioeconómicas ou até valores distintos, terão os seus padrões comportamentais específicos, valores e necessidades. Quando se começa uma startup, o mais certo é que se aposte num nicho de mercado. Quanto mais pequeno e específico, mais importante ainda é ter tudo isto em conta. Fazer este levantamento rigoroso fará toda a diferença no próprio brainstorming.
Por outro lado, trabalhar em busca de uma boa ideia de negócio será tanto mais eficaz quanto mais ‘fértil’ for o contexto em que esse processo decorre. Constitui uma enorme mais-valia poder contar-se com um ambiente com as condições certas, em que exista a possibilidade de partilha de know-how e insights informados, e onde seja, portanto, possível desenvolver e validar as ideias que surgem. Desta forma, evita-se igualmente que se esteja a investir recursos e tempo em ideias que não iriam ter futuro.
Até porque a inovação não se mede simplesmente pela identificação de novas ideias. O seu valor inovador medir-se-á quando as mesmas provarem ser viáveis e potencialmente criadoras de retorno.
Não menos importante é procurar inspiração no que está em redor ou mesmo no trabalho desenvolvido por outros atores do mesmo setor de atividade. Não para copiar ideias alheias, claro, mas no pressuposto de aprender com quem já está na área e procurar possíveis pontos de partida para acrescentar ao já existente no mercado.
Como já referido, as ideias dificilmente surgem do vazio e de uma simples epifania. Poder treinar a mente e estimular a imaginação, com a noção de que as ideias estão em toda a parte – em casa, no trabalho, nos media ou nos locais por onde passa – é fundamental para criar algo de inovador. E, não menos importante, há que não ter medo de ‘deitar mãos à obra’.
Começar pelo fim ou pelo princípio?
Encontrada uma ideia, há que, de seguida, pensar num modelo de negócio, num planeamento estratégico, fazer pesquisa de mercado, definir metas e prazos e explorar opções de financiamento, certo? Não necessariamente.
Há quem defenda um processo de lançamento de uma startup e geração de ideias como algo mais fluído, assente na premissa de que, se os gestores são profissionais focados no sítio para onde querem ir, os fundadores das startupsmais bem-sucedidas são aqueles que começam por trabalhar com aquilo que são e com o que têm para acrescentar.
Neste modelo de empreendedorismo, pressupõe-se que os planos não são rígidos, que os meios são, no início, reduzidos e que é com o arranque da atividade que se vai encontrar e consolidar o verdadeiro esqueleto do projeto de negócio. A pesquisa de mercado faz-se com as vendas, conversando com os clientes potenciais, descobrindo aquilo de que precisam e não o que a empresa crê ser aquilo de que necessitam e percebendo o que estão dispostos a pagar e não o que, à partida, se tencionava cobrar.
É este trabalho já no ativo que permitirá melhorar e adaptar o plano de negócios e a estratégia e, então aí, ‘fechar’ um rumo para a startup. Poder perceber junto de potenciais clientes ou mesmo através da comercialização efetiva em menor escala, ajudará no processo de descartar o que não é viável e concentrar-se no que tem mesmo ‘pernas para andar’.
Uma ideia inovadora é, efetivamente, um fator essencial – ainda que não exclusivo – para lançar uma startup de sucesso. Até porque permite, nomeadamente, ter um acesso mais facilitado a investidores e outros veículos de financiamento, como programas de apoio institucionais. Ora, com o mundo dos negócios em constante mudança, repleto de ideias e com tudo a acontecer a uma enorme velocidade, o caminho até chegar ao lançamento de uma nova ideia pode parecer desafiante. Mas, ainda que os tempos que vivemos possam por vezes parecer avassaladores para quem quer entrar na corrida, será sempre possível criar algo de diferente e de inovador. O ser humano tem, e continuará a ter, uma inesgotável capacidade de se reinventar e de partir em busca de formas de evoluir e quebrar barreiras.